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É perigoso viajar para a Arábia Saudita?

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É perigoso visitar a Arábia Saudita? A questão sobre se a Arábia Saudita é um país perigoso de se visitar é algo ambígua. 

Normalmente, para ocidentais, este reino árabe é essencialmente conhecido por ser a terra-mãe do evento religioso mais proeminente do mundo, e para onde milhões de pessoas fazem anualmente a peregrinação de uma vida a Meca e Medina – o Haj. 

A Arábia Saudita é de facto um país muito severo no que diz respeito a seguir as leis do islamismo e onde domina a Lei Sharia. A segregação entre homens e mulheres, a proibição rigorosa da prática de outras religiões e a pena de morte através de decapitação pública ou crucificação não ajudou a criar uma imagem da Arábia Saudita de destino seguro para estrangeiros. 

Shar??ah, também escrita Sharia, é o conceito fundamental religioso do Islão, mais concretamente a sua lei, sistematizada durante os séculos VIII e IX CE.

Citação.

Sendo o islamismo para a maior parte de nós, uma religião extremamente diferente tanto a nível cultural como a nível prático, a Arábia Saudita é provavelmente mais desconhecida e inalcançável do que qualquer outro país no mundo.

Combinando esta realidade cultural e contrastes com o facto de os sauditas não emitirem vistos de turista, o país manteve o seu estatuto de inacessível. 

Até há apenas pouco tempo, conseguir um visto de turista para a Arábia Saudita era impossível. 

A maior parte dos viajantes basicamente colocava a Arábia Saudita no fim da lista dos países a visitar, não porque não quisessem lá ir, mas porque não havia forma de lá entrar. 

Com as mudanças governamentais recentes e o ajustamento de regras sociais nesta cultura rígida, o novo Rei Mohammad bin Salman emitiu novas ordens com vista ao desenvolvimento e diversificação da economia da nação, e um dos seus principais interesses é abrir o país a turistas estrangeiros.  

Locais como a velha cidade de Jeddah, os petróglifos de Jubbah, a velha cidade de Ad-Deerah em Al Ula, Al Ghat, a aldeia-Património Ushaiqir, os locais da UNESCO Mada’in Saleh e Ad Diriyah em Riad, e muitos outros locais estarão em breve abertos a todos aqueles que queiram visitar a Arábia Saudita.

 MESQUITA NA ARÁBIA SAUDITA
MESQUITA NA ARÁBIA SAUDITA

Já estão ansiosos por visitar? 

Vamos lá voltar ao ponto sobre a Arábia Saudita ser um local perigoso de visitar.

Porque é que as pessoas sequer colocam esta questão? Este é um assunto complexo, e tentar explicar rapidamente é difícil e será com quase toda a certeza completamente pouco preciso. Vou tentar falar-vos um pouco desta questão complicada para que percebam alguns pontos cruciais sobre o assunto.

Durante as últimas décadas, temos visto grupos jihadistas a lutar contra o que parece ser, de acordo com a sua lógica, a profanação de terras muçulmanas por exércitos e políticos não-muçulmanos.

O Afeganistão, o Iraque, a Somália, a Líbia e a Síria estão sempre nas notícias, e imagens dos guerreiros muçulmanos salafistas a cortarem cabeças de estrangeiros foram de facto chocantes para a maioria dos muçulmanos e não-muçulmanos por todo o mundo. 

Vamos voltar um pouco atrás no tempo:

A guerra Soviético-Afegã durou cerca de nove anos, de dezembro de 1979 a fevereiro de 1989. 

A presença da influência americana no Afeganistão e o seu apoio económico aos talibãs para que lutassem contra os russos, criou um desastre de longo termo que levou à criação de outros ramos de grupos terroristas que continuaram a destabilizar a região, até ao grande evento e elemento crucial de mudança para os grupos jihadistas como a Al-Qaida. Estou a falar da guerra no Iraque.  

A invasão do Iraque pelas forças norte-americanas sob o falso pretexto do Saddam ter armas de destruição massiva (que se sabe agora ser totalmente falso), destruiu um dos países mais estáveis da região e destabilizou todo o Médio Oriente. 

O vácuo político e período anárquico posterior à invasão do Iraque deu origem a ainda mais células terroristas que se envolveram na criação de algo ainda mais inacreditável no século XXI: o estabelecimento de um califado tal como existia há centenas de anos atrás. 

Um califado é um país sob o reinado de um califa ou chefe governante muçulmano. E sabem que mais? A Al-Qaida e o ISIS conseguiram de facto criar uma terra própria, um novo estado islâmico, e a sua capital era Mossul, no norte do Iraque. 

Isto aumentou toda a confusão que já existia na relação Islão vs Ocidente.

Mas porque é que estou sequer a falar sobre o Afeganistão e o Iraque quando a questão era sobre a segurança na Arábia Saudita?

Novamente, não é assim tão simples explicar isto, e eu tenho de vos fazer entender alguns pontos.

O movimento salafista é normalmente caracterizado como sendo idêntico ao wahhabismo, mas os salafistas consideram o termo “wahhabita” depreciativo.

Um wahhabita é alguém que segue o wahabismo ou os ensinamentos de Muhammad Bin Abdul Wahhab, um homem nascido na Arábia Saudita. 

O wahhabismo sempre foi uma forma de salafismo e, como regra, todos os wahhabitas são salafitas, mas nem todos os salafitas são wahhabitas. 

O wahhabismo, que é uma doutrina ideológica criada no século XVIII, ensina o islamismo fundamentalista, rejeita qualquer renovação ou regeneração dos valores islâmicos e luta culturalmente contra a óbvia influência ocidental, a democracia e os muçulmanos xiitas (outro ramo do islamismo com cerca de 400 milhões de seguidores). 

O jihadismo salafita ou salafismo jihadista é uma idelogia politico-religiosa transnacional baseada numa crença do regresso do jihadismo “físico” e do movimento salafita ao que os crentes acreditam ser o verdadeiro Islão sunita.  

Citação.

Vou agora direto ao assunto (finalmente!). O wahhabismo foi criado por Muhammad ibn Abd al-Wahhab, que quase cerca de 40% dos sauditas supostamente reconhecem e seguem como a sua principal visão e forma de praticar o islamismo. 

Durante o estabelecimento do país, a aliança entre os seguidores de ibn Abd al-Wahhab e os sucessores de Muhammad bin Saud (a Casa de Saud) criou o Reino da Arábia Saudita, onde os ensinamentos de Mohammed bin Abd al-Wahhab são patrocinados pelo estado saudita, sendo a principal forma islâmica no país até hoje. Além disso, 47% da população do Qatar e 45% dos emiradenses seguem o wahhabismo.

Alguns wahhabistas na região apoiaram e financiaram grupos jihadistas, e numa batalha cultural e luta pelo poder e religião, grupos militantes jihadistas-salafitas assentes na doutrina wahabita ensinaram e dissiparam uma guerra extremamente severa e intolerante contra tudo o que vai contra a sua forma de ver o mundo. Isto afetou na sua maioria muçulmanos da região, que não seguiam a sua forma de islamismo, e outras religiões tais como os cristãos e os iazidis. 

MESQUITA EM RIAD –  ARÁBIA SAUDITA
MESQUITA EM RIAD – ARÁBIA SAUDITA

Pára! Diz-me de uma vez: a Arábia Saudita é perigosa? 

Não, de todo.

Se seguirem a rigorosa lei do país, a Arábia Saudita é livre de crime e roubos.

Muitas pessoas deixam o seu carro em funcionamento enquanto vão ao supermercado, sem qualquer preocupação sobre serem roubadas. As mulheres, apesar de se terem de vestir de forma conservadora, não se preocupam em serem vítimas de crimes. 

Se mantiverem os vossos pontos de vista políticos e religiosos para vocês mesmos, a Arábia Saudita é um país seguro.

Sauditas amigáveis a acampar no deserto
Sauditas amigáveis a acampar no deserto

Por favor tomem em atenção:

  • A religião na Arábia Saudita é um factor muito importante a ter em conta. Este país é explicitamente um estado islâmico, sem qualquer separação entre o estado e a religião. 
  • Respeitem as crenças das pessoas.
  • Vistam-se de forma conservadora, até os homens cobrem os seus braços e pernas.
  • Se não acreditarem em Deus, não o digam em voz alta. Não só porque estão a ser rudes para com muçulmanos de todo o mundo, mas principalmente porque é considerado blasfémia na Arábia Saudita. 
  • A blasfémia é tratada como abjuração e criminalizada e punível com pena de morte (decapitação e crucificação).
  • Alguns sauditas são condutores muito perigosos. Se alugarem um carro na Arábia Saudita, verifiquem sempre com extra atenção o vosso espelho retrovisor.

A blasfémia é o ato de insultar ou mostrar desprezo ou falta de reverência em relação a uma divindade ou em relação a algo considerado sagrado ou inviolável. 

Citação

Ainda estão aí? Por favor não se assustem. 

Posso contar-vos um segredo?

Cerca de dois milhões de cristãos vivem na Arábia Saudita. 

Posso contar-vos outro pequeno segredo? 

A maioria dos sauditas (assim como a maioria dos muçulmanos por todo o mundo) são incrivelmente hospitaleiros, amáveis e generosos para com estrangeiros. Milhares de estrangeiros vivem e trabalham na Arábia Saudita, e todos têm histórias fantásticas sobre a hospitalidade local. 

Do meu ponto de vista e experiência pessoal, eu encontrei um povo de coração doce e generoso que me acolheu durante a minha viagem de 14 dias pela Arábia Saudita.


Duas semanas na Arábia Saudita

Pequeno vídeo da minha viagem de duas semanas à Arábia Saudita.

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